Não há uma maneira única de categorizar e definir o movimento humano. Esse é um assunto que pode ser estudado durante toda a vida e não haverá uma conclusão definitiva sobre como ele pode ser explicado de forma simples. Há uma infinidade de fatores que influenciam a eficiência do movimento, todos eles reunidos para criar um modelo único para cada indivíduo e variam dentro de cada campo especializado. Qual é o fator universal que tornará o corpo humano capaz de se mover bem em uma variedade de cenários? Complicado... E não tenho certeza se há uma resposta clara e única para isso. Mas vamos "olhar" para um aspecto que pode ser muito útil nesse sentido, no meu ponto de vista, que é a diferenciação.
Para resolver problemas motores de forma eficiente, todo o corpo precisa trabalhar em sinergia. Deve haver comunicação entre todas as suas partes que forneçam uma base para uma ação unificada. Sem isso, o corpo não será capaz de responder a estressores externos e lutará constantemente contra forças que agem sobre ele em vez de colaborar com elas. Essa conectividade é característica da tensegridade do corpo humano. Infelizmente, ela pode ser facilmente "perdida" quando o corpo não é estimulado adequadamente. Você pode observar a tensegridade claramente em crianças pequenas – como toda a estrutura delas responde a qualquer estímulo externo de forma coerente. Há uma qualidade em seus movimentos que indica a resposta conjunta de todas as partes do corpo. Você pode observar o mesmo fenômeno em atletas e artistas de alto nível que estão envolvidos em seu ofício desde novos. No entanto, muitas vezes quando você pergunta a eles qual é a base de seus movimentos, eles não serão capazes de responder porque já está tão arraigado na sua maneira de agir que se torna quase impossível reconhecê-lo conscientemente. Com doenças e degeneração dos tecidos relacionadas ao envelhecimento em pessoas que não se movem constantemente, essa conectividade desaparece.
No entanto, nem tudo está perdido para aqueles que não conseguiram manter essa qualidade de estímulos desde a infância. Você pode reconectar seu corpo e restaurar a conectividade de sua estrutura. Não existe uma maneira única de fazer isso, mas há um elemento essencial que é necessário para criar uma melhor sinergia no corpo, e esta é a capacidade de diferenciar entre todas as suas diferentes partes primeiro, entendendo assim claramente como elas estão interconectadas. Um exemplo que costumo dar aos meus alunos é o de um carro: você dirige um carro e não pensa muito sobre como ele funciona até que ele quebre. Você pode levá-lo ao mecânico, mas se você for capaz de desmontar o carro e saber o que cada detalhe faz precisamente em relação a todo o resto, você terá uma experiência diferente dirigindo-o e também será capaz de consertar o que estiver quebrado sem esperar a chegada do mecânico. Quando você estuda algo, é útil entender em que consiste, mantendo em mente que em sistemas complexos a totalidade de uma coisa nunca é meramente a soma de suas partes.
Quando falamos sobre o corpo humano, a diferenciação leva a uma maior consciência. Você sabe quais partes estão fazendo o que exatamente a cada momento. A precisão do feedback sensorial é o que permite a diferenciação da paisagem do corpo. A capacidade de sentir o próprio corpo é chamada de propriocepção, e esta é a principal característica que está associada à qualidade do controle motor e destreza (J. Han, et al, 2016). A complexidade do movimento humano e sua eficiência é o resultado da interação da percepção sensorial e da saída motora: A medida que nos movemos, estamos constantemente recebendo correções em tempo real em velocidades incríveis. A proporção de informações sensoriais para motoras no cérebro quando nos movemos é de cerca de 9 para 1 (B. Gesslbauer, et al. 2017). É impossível perceber conscientemente todas essas correções, mas você pode melhorar a percepção do feedback sensorial em seu corpo por meio de práticas deliberadas. Quanto mais diferenciado for o mapa do seu corpo dentro do seu sistema nervoso, mais aprimorada será sua capacidade de sinergia no movimento.
Há outra camada que podemos destacar: quando seu corpo é bem diferenciado e você entende como criar diferentes qualidades e reunir sinergias para resolver tarefas motoras de forma eficiente, você também é capaz de ver isso nos outros. Por exemplo, eu não reconheceria um grau de tensão em outra pessoa se eu fosse incapaz de reconhecê-lo no meu próprio corpo. Nem seria capaz de apreciar um alto nível de habilidade se eu nunca tentasse aprendê-lo. É como um gradiente de cores: um olho treinado de um pintor verá muito mais tons de uma única cor em comparação com uma pessoa comum. Pelas mesmas métricas, quando meu corpo é bem diferenciado e eu tenho uma paleta maior de movimentos, serei capaz de perceber mais sutilezas ao observar os outros. Isso me tornará um aprendiz muito melhor e mais autônomo porque agora posso extrair informações de experiências visuais e táteis e trabalhar com elas. Posso ver com mais clareza o que está acontecendo na minha frente e serei capaz de aplicá-lo em minhas soluções motoras mais tarde porque posso extrair das referências construídas em meu próprio entendimento. Dessa forma, crio um tipo diferente de terminologia que me ajudará a evoluir ainda mais.
Nossa estrutura reflete diretamente nossos pensamentos e emoções. Você pode dizer muito sobre uma pessoa pela maneira como ela se move e resolve tarefas motoras. Eu diria que sem um corpo diferenciado, você não pode saber quem você realmente é. O corpo e a mente são inseparáveis, interligados e constantemente se comunicando. A divisão cartesiana que herdamos em nosso pensamento sobre esses assuntos deveria ser eliminada da nossa compreensão do movimento e dos relacionamentos dentro de diferentes partes de nós mesmos e dos outros. Cada categoria de experiência que formamos é parte de um todo e não pode existir isoladamente. Quanto melhor a diferenciação entre elas, melhor a compreensão de nossa verdadeira natureza. Não seria esse o verdadeiro significado por trás de "conhecer a si mesmo"?
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