Nas últimas semanas, lendo materiais sobre FLUXO e assuntos relacionados, me deparei com um relato de um pianista talentoso mencionando estratégias que ele utilizou na sua jornada para se tornar "excelente" na arte de tocar piano. Nesse relato ele fala sobre fluxo e prática deliberada de maneira que pode nos levar a reflexões interessantes sobre o assunto... e trazer insights para a área do movimento.
Estratégias do pianista para se tornar excelente:
Estratégia nº 1: Evite o fluxo. Faça o que não é fácil.
“O erro que a maioria dos pianistas 'fracos' comete é apenas tocar, e não praticar. Se você entrar em um music hall de uma universidade local nos EUA, você ouvirá pessoas 'tocando' e cantando suas peças. Este é um grande erro. Pianistas 'fortes' treinam as partes mais difíceis de sua música, raramente, ou nunca, tocando suas peças inteiras.”
Estratégia nº 2: Para dominar uma habilidade, domine algo mais difícil.
“Pianistas 'fortes' encontram maneiras inteligentes de ‘complicar’ as partes difíceis de sua música. Se tivermos problemas para tocar algo com clareza, complicamos tocando a passagem com padrões de acentos alternados. Se tivermos problemas com velocidade, confundimos os ritmos.”
Estratégia nº 3: Eliminar sistematicamente as fraquezas.
“Os pianistas 'fortes' conhecem as nossas fraquezas e usam-nas para criar força. Tenho ouvidos aguçados, mas não estou tão em contato com o componente físico de tocar piano. Então, eu pratico em um teclado mudo.”
Estratégia nº 4: Crie beleza, não evite a feiúra.
“Pianistas 'fracos' fazem da música uma tarefa reativa, não uma tarefa criativa. Eles iniciam e reagem ao seu desempenho, resolvendo os problemas à medida que avançam. Os pianistas 'fortes', por outro lado, têm uma imagem de como deveria ser uma performance perfeita, que inclui todos os sentidos relevantes. Antes de nos sentarmos, sabemos o que a peça precisa para sentir, soar e até mesmo parecer com detalhes insuportáveis. Na performance, os pianistas 'fracos' tentam se afastar reativamente dos erros, enquanto os pianistas fortes avançam em direção a uma imagem mental perfeita.”
Diante dessas quatro estratégias fica perceptível que o autor (pianista) é mais adepto à prática deliberada do que a experiência do fluxo (flow).
Ao experimentar o fluxo (flow), de forma bastante resumida para não prolongar exageradamente esse texto, o indivíduo se funde a prática, se sentindo desafiado e ao mesmo tempo experienciando satisfação e prazer, mesmo dedicando um certo esforço para manter-se naquele fluxo.
Na prática deliberada o indivíduo se envolve em uma atividade de treinamento (normalmente planejada) que visa atingir um nível um pouco além do estado de desempenho atualmente atingível, através do envolvimento em concentração total, análise após feedback e várias repetições com e para o refinamento. Ou seja, são estados incompatíveis, pelo fato de que quem busca uma prática deliberada, persegue níveis de desafio altos para sua habilidade atual, exigindo maior quantidade de esforço e tensão deliberada para refinar o que se busca. Já para quem busca o fluxo, os níveis de desafio da atividade e habilidade do indivíduo estão mais "balanceados", onde não há um gasto de energia grande para desempenhar a tarefa, afinal a fase mais árdua de refinamento já se passou, então se torna possível desbloquear ainda mais o processo de criatividade e exploração, possibilitando o surgimento de novas formas de resolver o mesmo desafio, além da obtenção de prazer e satisfação no processo.
Acredito que ambas, experiência do fluxo e prática deliberada, podem ser fases diferentes de um mesmo processo, ao invés de opostos que se confrontam, como é sugerido pelo autor (pianista) mencionado anteriormente. Afinal, trazendo como exemplo o movimento humano, ao aprender algum movimento novo, é necessário investir tempo e energia para refiná-lo, para que no futuro se torne algo "seu", onde se possa utilizar com menor gasto de energia e maior criatividade\virtuosidade na sua prática de flow.
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E então, o que achou do conteúdo de hoje? Me conta aqui nos comentários se você já tinha lido sobre esse assunto e\ou já tinha refletido sobre, conectando com a área do movimento humano.
Até a próxima, galera! Abraço.
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